quarta-feira, 23 de abril de 2008

VI Congresso atIT, Parco Naturale Adamello-Brenta, JJ3


Com o intuito de assistir ao VI Congresso de Teriologia, 2008, organizado pela atIT em Cles, já fora mas muito perto do Parque Natural Adamello-Brenta.

Ficamos hospedados, durante as 3 noites, num Agriturismo ("Renetta") na pequena vila Tassulo.
Uma estalagem muito acolhedora, retratando um refúgio de montanha, que todas as manhãs nos regalava um verdadeiro pequeno(só mesmo de nome)-almoço dos deuses com uma mesa repleta de óptimas iguarias.

Infelizmente o congresso começou logo com uma infeliz notícia. JJ3, um urso pardo ("Ursus arctos"), que após alguns desacatos com contentores públicos para os desperdícios urbanos, no dia 15 de Abril (dia anterior ao primeiro dia de conferência), as autoridades Suiças se viram obrigadas a abater, alegando que esta situação se vinha a prolongar à demasiado tempo.

Após alguma pesquisa, a informação que obtive foi que JJ3, pelas suas dimensões, e por se ter habituado a procurar estes recursos urbanos, perdendo assim o medo do Homem, se tornou um perigo para os residentes locais.
Que é um perigo, não se questiona, mas a resolução terá sido a melhor? Estará a comunidade Suiça pronta para receber outros ursos que futuramente decidam passar a fronteira, como defendem os responsáveis governamentais suiços para o ambiente?
A situação piora um pouco quando:
-JJ3 vinha a ser monitorizado desde 2007 pelas mesmas autoridades que o abateram, tendo sido gasto cerca de SFr300,000 ($299,925) durante todo o ano;
-o mesmo pertencer a uma população(?) centro-alpina de apenas 20 exemplares;
ter sido o segundo exemplo de abatimento após movimento transfontreiriço nos últimos 2 anos, seguindo o mesmo fim do seu irmão JJ1, morto em 2006 na Bavaria;
-ser resultado de um projecto a longo prazo, de reintrodução, realizado pelas autoridades italianas no Parque Nacional Adamello-Brenta no fim dos anos 80, após se encontrar quase em extinção no mesmo;
-quando a Suiça pertence ao grupo, a que chamam, dos Países Desenvolvidos, visando estes uma política de gestão sustentável dos recursos naturais;
-e muito mais poderia dizer mas receio vir a alongar-me demasiado...

Mas voltando à conferência, muito foram os trabalhos expostos, os métodos criticados e a informação absorvida.

No segundo dia de conferência, como nos esperava uma manhã repleta com um assunto, não menos importante, mas talvez mais distanciado dos nossos objectivos de trabalho actual, a parasitologia, decidimos fazer um pequeno passeio pelo Parque Natural e assim conhecer um pouco da sua natureza selvagem.

E que bella surpresa nos esperava. Nada melhor para repôr um pouco de alegria, após a triste notícia do dia anterior, que a observação de todo um completo traçado de pegadas sobre a neve de um pesado e enorme adulto (que deveria ser uma fêmea) e pelo menos de uma cria de urso pardo. A alegria foi enorme, a raridade da observação de uma pista de 2 de 20(agora 19) indivíuduos distribuídos por uma área de 620.51km2 é, como é de esperar, elevadíssima.

O parque é simplesmente espectacular. Com um manto verde composto por uma rica floresta de coníferas só quebrada por enormes precipícios e ravinas cavadas naturalmente na rocha. Estou desejoso de lá voltar muito em breve, e passar um belo fim de semana no meio do parque, e quem sabe se em vez de indícios de presença, não vejo mesmo um belo exemplar...é muito difícil, mas sentado no sofá é que não os vejo de certeza, a não ser na TV.

(foto de Asbrauss)
Nuno Oliveira

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