sábado, 2 de fevereiro de 2008

Parco Nazionale Gran Paradiso, Vale d'Aosta, Itália


De mala às costas com roupa e comida para quatro dias e o material de trabalho, lá nos fizemos nós, Eu, Fra e Davide, a mais uma caminhada espectacular, montanha acima, com o objectivo de chegar ao abrigo que nos ía acolher (que como mais à frente, pouco mais nos fornecia que um bom tecto) e para assim podermos fazer mais uma sessão de capturas de lebre branca. Uma caminhada de uma hora e meia com muita neve e não muito frio, que com o evoluir do tempo se tornou num calor quase insuportável.

Chegados ao topo daquela enorme colina, 2165m acima do nível do mar (a.s.l.) podemos respirar um pouco e poder admirar a bela paisagem que nos rodeava. Mais uma vez me senti imensamente pequeno perante enormes montanhas que me rodeavam em todos os 360 graus. De todos os lados emergiam do chão enormes montanhas com os seus belos 4000m, e entre elas, lá estava aquela cujo o nome o dá ao parque, Grand Paradiso, com os seus 4061m (confirmados por Davide que já subiu em tempos ao seu topo) dando-lhe o estatuto de a maior montanha unicamente Italiana. Depois de admirarmos todo aquele panorama, lá fizemos nós os últmos 200m e…lá estava ela, a nossa bela casa que por 4 dias e 3 noites nos iría acolher humildemente, no meio de enormes montanhas e sujeita frequentemente a perigo de avalanche. Mesmo o facto de sabermos que era a primeira vez que alguem ali passava mais de uma noite em pleno inverno não nos assustou, e lá nos dirigimos nós ao nosso palácio.

Não muito diferente do que já estamos habituados nos vários refúgios das nossas áreas de estudo, lá entrámos naquela casa que pouco mais nos tinha para oferecer que 4 paredes, um telhado e uma lareira que de vês em quando tinha a mania de encher a casa cheia de fumo. E assim se passaram três belas noites à luz de velas, sem wc, incomunicáveis e isolados do mundo, a ir buscar água a um pequeno reacho que passava junto a casa e a ter todas as noites a companhia de um ou outro pequeno roedor a fazer o seu zeloso trabalho ruidoso. Mas todo aquele paraíso natural compensa bem a falta destes pequenos luxos que a sociedade nos fornece.

Apesar deste trabalho não fazer parte do meu projecto, a experiência valeu bem a pena. Fiquei assim a conhecer um mundo novo e diferente, que a maioria das pessoas que a poucos quilómetros habitam, mais teve a oportunidade de o ver e sentir. Em termos de trabalho foi uma desilusão por não termos capturado nem uma lebre. Mas è esta a vida da investigação, nem sempre corre pelo melhor, nem sempre corre como nós queremos e gostariamos. O esforço de acordar às 6h30 da manhã para percorrer todas as armadilhas na esperança de que, pelo menos uma, tivesse um habitante temporário foi em vão. Mas espera-se que das próximas sessões, que em princípio não serão feitas na minha presença, o resultado seja bem mais positivo.

Durante os 4 dias ainda ficou o registo das diversas espécies faunísticas que observámos: Capra ibex, Rupicapra rupicapra, Loxia curvirostra, Parus ater, Corvus corone corone, Aquila chrysaetos (2 juvenis) e Falco peregrinus.
Na viagem observámos: Ardea cinerea, Egretta alba, Phalacrocorax aristotelis, Buteo buteo, Falco tinnunculus, Pica pica, Gavião, Turdus merula, Passer domesticus, Corvus corone cornix e Garrulus glandarius.

Foto de Francesco Bisi.